terça-feira, 4 de novembro de 2014

Isolamento social na terceira idade

Muitas vezes encontramos pessoas idosas sozinhas, mesmo quando rodeadas de parentes ou amigos. Delas podemos ouvir relatos de angústia, limitações, dores sem explicação e falta de atividades no seu dia a dia. As queixas costumam ser mais intensas naquelas que perderam o cônjuge ou pessoas muito próximas.

Alguns problemas não decorrem exclusivamente do envelhecimento biológico. É algo mais profundo que uma desaceleração metabólica ou diminuição hormonal. A exclusão, seja ela social ou afetiva, é também responsável pelas alterações corporais nos idosos. Além de aumentar o risco de morte, pode contribuir para o desenvolvimento de doenças infecciosas e cardiovasculares; o aumento da pressão arterial e do hormônio do estresse (cortisol), e a deterioração do funcionamento cerebral.

Na questão social, a aposentadoria leva o idoso ao isolamento diante da sensação de inutilidade. Para eles, principalmente para os homens, deixar de trabalhar significa deixar de ser útil e capaz de comandar sua própria vida, o isolamento funciona como uma válvula de escape.

O convívio em sociedade e em família permite a troca de carinho, experiências, ideias, sentimentos, conhecimentos, dúvidas, além de uma troca permanente de afeto.

Considerando a questão afetiva, uma das coisas mais desagradáveis e dolorosas é a indiferença familiar. Muitas vezes, não é o idoso que se isola, é a família que o deixa de lado.

Com o passar do tempo, o individuo idoso perde a posição de comando e decisão que estava acostumado a exercer, e as relações entre pais e filhos modificam-se. Consequentemente, as pessoas idosas tornam-se cada vez mais dependentes, e uma reversão de papeis se estabelece. Os filhos geralmente passam a ter responsabilidade pelos pais, mas muitas vezes se esquecem de uma das mais importantes necessidades: a de serem ouvidos. Os pais, quando manifestam a vontade de conversar, percebem que os filhos não têm tempo de escutar as suas preocupações.

O ambiente familiar pode determinar as características e o comportamento do idoso. Assim, na família suficientemente sadia, onde se predomina uma atmosfera saudável e harmoniosa entre as pessoas, possibilita o crescimento de todos, incluindo o idoso, pois todos possuem funções, papeis, lugares e posições e as diferenças de cada um são respeitadas e levadas em consideração.

Nas famílias onde existe o excesso de zelo, o idoso torna-se progressivamente dependente, sobrecarregando a própria família com tarefas executadas para o idoso, onde na maioria das vezes, ele mesmo poderia estar realizando. Esse processo gera um ciclo vicioso, tornando-o mais dependente.

Por outro lado, em família onde há desarmonia, falta de respeito e não conhecimento de limites, o relacionamento é carregado de frustrações, com indivíduos deprimidos e agressivos. Essas características promovem retrocesso na vida das pessoas. O idoso torna-se isolado socialmente e com medo de cometer erros e ser punido.

Neste caso, é preciso que todos os que convivem com o idoso se sensibilize e perceba que “deixa-lo de lado” pode trazer consequências graves em função da sensação de abandono: para se ter uma ideia da gravidade do problema, mais da metade dos idosos atendidos no consultório apresentam doenças típicas de quem está sofrendo emocionalmente. São quadros clínicos diversos, motivados por solidão e tristeza.

A frustração sempre nos traz acanhamento, medo; enquanto a satisfação nos realiza e nos leva a querer mais. A melhora da autoestima nos devolve a vontade de viver.

O simples fato de um idoso passar a ajudar em pequenas coisas pode mudar completamente sua visão de mundo e contribuir para o seu bem estar. Tarefas como por a mesa para o café traz satisfações ligadas aos sentimentos de ser útil à família. A partir e um movimento simples e corriqueiro, como o de colaborar nos afazeres domésticos, uma pessoa recupera a motivação. O desejo de realizar tarefas pode gerar novas conexões nervosas proporcionando um grande bem estar.


Portanto, devemos ter o idoso como membro atuante dentro da sociedade, integrando-o a ambientes sociais. Respeitar suas vontades e desejos pode fazer com que ele se expresse de forma mais eficaz. No momento em que ele tiver liberdade para se expressar e puder realizar os seus desejos, poderá assumir uma nova postura, uma nova colocação dentro do convívio social e familiar.

Nenhum comentário: