terça-feira, 4 de novembro de 2014

Idosos vítimas de violência familiar

Dia 2 de fevereiro perdemos um dos mais importantes cineasta do Brasil, Eduardo Coutinho, aos 80 anos, assassinado pelo seu próprio filho. Segundo amigos e familiares, o agressor tem problemas mentais, supostamente “esquizofrenia”, faz uso de remédios controlados e é dependente de drogas.

Muitas vezes os agressores dão sinais, só que, às vezes, por amor, por confiança e por acreditar que o outro vai melhorar, as pessoas acabam, inconscientemente, como um mecanismo de defesa, deixando essa primeira percepção de lado, e acreditam que é tudo normal, que tudo vai passar e que as coisas vão melhorar.

A violência familiar é considerada como a mais preocupante, já que as ocorrências de maus tratos contra os idosos, na grande maioria, são relacionadas ao familiar e às pessoas próximas, sendo, portanto, a mais difícil de ser controlada, pois se relaciona aos vínculos afetivos e de convivência diária. É uma violência calada, sofrida em silencio.

As primeiras reações dos idosos, diante da violência doméstica, podem envolver sentimentos de medo, vergonha e até mesmo, culpa pelo fracasso das relações, resultando muitas vezes na omissão do fato e até mesmo à aceitação deste como acontecimento natural das relações entre os membros da família. O medo faz com que as testemunhas e as vítimas não denunciem os agressores, sendo ameaçados com o uso de mais violência.

As marcas deixadas pela agressão contra as vítimas idosas não são apenas físicas, são também psicológicas e, às vezes, até morais. Parecem evidenciar o sentimento de incapacidade em lidar com os filhos, os netos, o companheiro, e em enfrentar o mundo que o cerca.

Infelizmente, muitos desconhecem os serviços de assistência e proteção contra a violência e não sabem como agir ou mesmo têm medo de pedir ajuda e não fazem a denúncia.

Do ponto de vista global, sabe-se que a violência, os maus tratos, as agressões de um modo geral, comprometem a saúde do idoso resultando em transtornos psíquicos com agravo de doenças, aumento dos gastos com a saúde e até mesmo, morte prematura.

Referindo-se à esquizofrenia (suposta patologia do filho do cineasta, em questão) é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. Seus primeiros sintomas manifestam-se no fim da adolescência e está associada a fator hereditário. Normalmente, o portador começa a ficar mais apático e deprimido. Sem cura, a doença tem entre suas características, confusão mental com delírios, alucinações, audição de vozes, perda de memória e dificuldades de fazer tarefas corriqueiras de forma organizada. São experiências que tira a pessoa do mundo real e a coloca à parte.

Não quero dizer, contudo que todo agressor seja esquizofrênico e nem que todo esquizofrênico pratica atos de violência; mas sim, levantar a hipótese de que esta doença pode ser um dos motivos de muitas agressões familiares. A violência praticada por um esquizofrênico não acontece de uma hora para outra e, quando acontece, é decorrente da falta de tratamento, de terapia ou medicação inadequada. O risco de violência sobe para 30% quando consome álcool ou droga.

É importante que os profissionais de saúde, cuidadores, parentes e amigos fiquem atentos. Os idosos quando sofrem agressões ficam mais silenciosos, evitam contato com pessoas próximas, evitam falar sobre seus familiares e muitas vezes entram em depressão. É preciso ter coragem e denunciar e ou, no caso de doença, procurar atendimento médico.

Portanto, muita coisa pode ser feita para minimizar, reduzir ou cessar a violência contra a pessoa idosa. Os diversos abusos, as violências, as negligências, as violações dos direitos, as discriminações e os preconceitos que as pessoas idosas sofrem, não só na família, mas na vida cotidiana precisam ser prevenidos e superados. Todas essas formas de violência e maus tratos representam um grave problema para o bem estar desse segmento etário. Os diversos abusos sofridos podem até mesmo, levar à morte, como já disse. Não podemos concordar que pessoas idosas sejam desrespeitadas e nem maltratadas. Isso não pode ocorrer no silêncio dos lares e nem tampouco na vida pública. Pessoas idosas, a sociedade civil e o Estado precisam ser parceiros para o rompimento do pacto do silêncio que ainda impera na violência à pessoa idosa.


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