terça-feira, 4 de novembro de 2014

Alcoolismo no idoso

Sempre que pensamos em uma pessoa idosa, alcoólatra, logo vem à mente a imagem clássica de um senhor, com barba branca, mal feita, cambaleando pela rua com a garrafa de pinga pura na mão, caindo na frente da calçada, fazendo toda a vizinhança olhar com desprezo e vergonha. A realidade não é bem essa, pessoa alcoólatra é toda aquela que, mesmo em pequenas doses, tem a necessidade diária ou quase que diária de fazer uso da bebida. Trata-se de uma doença crônica, silenciosa, progressiva, socialmente estimulada, com consequências fatais, e que mata muitas pessoas direta ou indiretamente.

O alcoolismo pode ser uma herança familiar, mas, no caso dos mais velhos, a principal causa é, sem dúvida, de fundo psicológico. O álcool funciona como tranquilizador para medos, ansiedades e frustrações.

O alcoolismo sempre foi um problema difícil de ser enfrentado em todas as fases, mas, na terceira idade, as dificuldades se tornam ainda maiores. Normalmente, utiliza-se o álcool como uma forma de lidar com uma série de perdas e sofrimentos físicos e psíquicos relacionados com a idade. Para outras pessoas, ainda é uma continuação de um padrão de consumo inadequado de substâncias que iniciou ainda jovem e que permanece na atualidade sem adequado tratamento.

Conforme o avançar da idade, a tolerância do corpo ao álcool diminui e seus efeitos sobre o sistema nervoso central aumentam, promovendo déficits no funcionamento cognitivo e intelectual e prejuízos no comportamento global.

Já o fígado, uma das partes mais afetadas pelo consumo do álcool, tende a diminuir com a idade, passando também a diminuir seu ritmo de trabalho.

Pode causar também outros problemas como problemas de memória; depressão; diminuição do sistema circulatório, o que pode ocasionar um acidente vascular cerebral (AVC); hipertensão; comprometimentos cardíacos, agravamento de patologias senis; complicações no aparelho digestivo, que vão desde uma gastrite até um problema na absorção de vitaminas essenciais, o que pode levar à demência; problemas no sistema muscular, como a polineurite alcoólica que causa dor, formigamento e cãibras nos membros inferiores; aumento das chances do desenvolvimento de inúmeros tipos de canceres e também as quedas que são muito frequentes nessa faixa etária, agravando-se ainda mais com a falta de equilíbrio pelo uso excessivo do álcool.

Essas quedas podem causar fraturas devido a uma fragilidade óssea maior, que e frequente em idosos. A quebra do fêmur é especialmente preocupante, pois, 15% das pacientes idosos que fraturam este osso vêm a morrer no prazo de um ano devido a tromboses, embolias ou infecções causadas pela imobilização. E dos pacientes que sobrevivem, 50% não têm novamente uma vida normal.

Outro fator importante é a interação do álcool com os medicamentos usados em doenças como as cardiológicas, por exemplo, que são comuns em idosos e que consequentemente, dificulta o tratamento.

Há mais riscos de acidentes, inclusive de trânsito.

Muito embora se pareça normal, o consumo do álcool é incentivado por intermédio dos meios de comunicação. Para reforçar ainda mais seu consumo, lançaram uma propaganda em um canal de TV, na transmissão dos jogos da copa, em horário nobre, onde idosos se divertiam acompanhado de cerveja o que é lamentável para o Ministério da Saúde por permitir tal estímulo. A longevidade é uma realidade e, investirmos em um envelhecimento saudável é dever de todos nós, profissionais, instituições e sociedade.

Provavelmente vocês já viram campanhas contra o alcoolismo para jovens mas, para alertar os idosos sobre o perigo que o álcool representa para a sua saúde, quase nunca, pelo contrário. Recentemente, lançaram uma propaganda de cerveja em um canal de TV, na transmissão dos jogos da copa, e horário nobre, onde os idosos se divertiam acompanhado de cerveja, o que é lamentável para o Ministério da Saúde por permitir tal estímulo.

O que me leva a pensar que, vivemos numa sociedade capitalista de consumo que visa o lucro, assim, o mercado já está de olho nesta faixa etária que se expande, e tenta seduzir os idosos para o consumo do álcool. Cabe a nós, profissionais, instituições, sociedade, dizermos basta a estas propagandas e exigirmos Políticas Públicas de Assistência ao Idoso que vise a qualidade de vida.

Temos também que mobilizar a família. Muitas vezes, eles não sabem lidar com o problema da dependência, sofre muito e além de tudo, recrimina o dependente, que fica isolado da família e sempre tratado como culpado por tudo que acontece de ruim, o que, obviamente, não é verdade. O maior problema é que, quando a família recrimina o dependente, ela reforça o uso o uso (co-dependência), e cada vez menos, o idoso se sente capaz de parar e, na maioria dos casos, nega o problema.

A terapia familiar ajuda a família a assumir um papel importante no tratamento do dependente, reforçando as orientações médicas e apoiando o paciente em suas dificuldades. Afinal, amigos, familiares e qualquer um que queira ajudar no tratamento pois é muito difícil parar sozinho. Essa pessoas devem ser adequadamente orientadas, não basta querer ajudar, é preciso aprender como ajudar.

O álcool leva o usuário a várias perdas, dentre elas e mais importante, a família. Perde o respeito porque as agressões, tanto verbais como físicas, se torna constante. Só quem convive com um alcoólatra sabe na verdade o que acontece no seu dia a dia. As pessoas que não vivenciam essa situação, apenas tem uma noção remota do quanto o alcoolismo afeta a vida dos que o cercam, sem contar com a deles.

O amor da família é peça fundamental para afastá-lo do álcool. Entretanto, se o alcoólatra não querer se afastar, de nada adianta todo amor depositado nele.


O alcoolismo é uma doença onde na maioria das vezes o paciente não quer ser tratado, levando a família a adoecer juntamente com ele. Essa doença deixa marcas profundas no corpo e principalmente na alma das pessoas que convivem com um alcoólatra. As desconfianças, as brigas, as agressões físicas, psicológicas são lembranças que o tempo ameniza, mas jamais apaga nos corações dos envolvidos.

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