Sempre que pensamos em uma pessoa idosa,
alcoólatra, logo vem à mente a imagem clássica de um senhor, com barba branca,
mal feita, cambaleando pela rua com a garrafa de pinga pura na mão, caindo na
frente da calçada, fazendo toda a vizinhança olhar com desprezo e vergonha. A
realidade não é bem essa, pessoa alcoólatra é toda aquela que, mesmo em
pequenas doses, tem a necessidade diária ou quase que diária de fazer uso da
bebida. Trata-se de uma doença crônica, silenciosa, progressiva, socialmente
estimulada, com consequências fatais, e que mata muitas pessoas direta ou
indiretamente.
O alcoolismo
pode ser uma herança familiar, mas, no caso dos mais velhos, a principal causa
é, sem dúvida, de fundo psicológico. O álcool funciona como tranquilizador para
medos, ansiedades e frustrações.
O alcoolismo
sempre foi um problema difícil de ser enfrentado em todas as fases, mas, na
terceira idade, as dificuldades se tornam ainda maiores. Normalmente,
utiliza-se o álcool como uma forma de lidar com uma série de perdas e
sofrimentos físicos e psíquicos relacionados com a idade. Para outras pessoas,
ainda é uma continuação de um padrão de consumo inadequado de substâncias que
iniciou ainda jovem e que permanece na atualidade sem adequado tratamento.
Conforme o
avançar da idade, a tolerância do corpo ao álcool diminui e seus efeitos sobre
o sistema nervoso central aumentam, promovendo déficits no funcionamento
cognitivo e intelectual e prejuízos no comportamento global.
Já o fígado,
uma das partes mais afetadas pelo consumo do álcool, tende a diminuir com a
idade, passando também a diminuir seu ritmo de trabalho.
Pode causar
também outros problemas como problemas de memória; depressão; diminuição do
sistema circulatório, o que pode ocasionar um acidente vascular cerebral (AVC);
hipertensão; comprometimentos cardíacos, agravamento de patologias senis;
complicações no aparelho digestivo, que vão desde uma gastrite até um problema
na absorção de vitaminas essenciais, o que pode levar à demência; problemas no
sistema muscular, como a polineurite alcoólica que causa dor, formigamento e
cãibras nos membros inferiores; aumento das chances do desenvolvimento de
inúmeros tipos de canceres e também as quedas que são muito frequentes nessa
faixa etária, agravando-se ainda mais com a falta de equilíbrio pelo uso
excessivo do álcool.
Essas quedas
podem causar fraturas devido a uma fragilidade óssea maior, que e frequente em
idosos. A quebra do fêmur é especialmente preocupante, pois, 15% das pacientes
idosos que fraturam este osso vêm a morrer no prazo de um ano devido a
tromboses, embolias ou infecções causadas pela imobilização. E dos pacientes
que sobrevivem, 50% não têm novamente uma vida normal.
Outro fator
importante é a interação do álcool com os medicamentos usados em doenças como
as cardiológicas, por exemplo, que são comuns em idosos e que consequentemente,
dificulta o tratamento.
Há mais riscos
de acidentes, inclusive de trânsito.
Muito embora
se pareça normal, o consumo do álcool é incentivado por intermédio dos meios de comunicação. Para reforçar ainda mais seu consumo, lançaram uma propaganda em
um canal de TV, na transmissão dos jogos da copa, em horário nobre, onde idosos
se divertiam acompanhado de cerveja o que é lamentável para o Ministério da
Saúde por permitir tal estímulo. A longevidade é uma realidade e, investirmos
em um envelhecimento saudável é dever de todos nós, profissionais, instituições
e sociedade.
Provavelmente vocês já viram campanhas contra o alcoolismo para jovens
mas, para alertar os idosos sobre o perigo que o álcool representa para a sua
saúde, quase nunca, pelo contrário. Recentemente, lançaram uma propaganda de
cerveja em um canal de TV, na transmissão dos jogos da copa, e horário nobre,
onde os idosos se divertiam acompanhado de cerveja, o que é lamentável para o
Ministério da Saúde por permitir tal estímulo.
O que me leva
a pensar que, vivemos numa sociedade capitalista de consumo que visa o lucro,
assim, o mercado já está de olho nesta faixa etária que se expande, e tenta
seduzir os idosos para o consumo do álcool. Cabe a nós, profissionais,
instituições, sociedade, dizermos basta a estas propagandas e exigirmos
Políticas Públicas de Assistência ao Idoso que vise a qualidade de vida.
Temos também
que mobilizar a família. Muitas vezes, eles não sabem lidar com o problema da
dependência, sofre muito e além de tudo, recrimina o dependente, que fica
isolado da família e sempre tratado como culpado por tudo que acontece de ruim,
o que, obviamente, não é verdade. O maior problema é que, quando a família
recrimina o dependente, ela reforça o uso o uso (co-dependência), e cada vez
menos, o idoso se sente capaz de parar e, na maioria dos casos, nega o
problema.
A terapia
familiar ajuda a família a assumir um papel importante no tratamento do
dependente, reforçando as orientações médicas e apoiando o paciente em suas
dificuldades. Afinal, amigos, familiares e qualquer um que queira ajudar no
tratamento pois é muito difícil parar sozinho. Essa pessoas devem ser
adequadamente orientadas, não basta querer ajudar, é preciso aprender como
ajudar.
O álcool leva
o usuário a várias perdas, dentre elas e mais importante, a família. Perde o
respeito porque as agressões, tanto verbais como físicas, se torna constante.
Só quem convive com um alcoólatra sabe na verdade o que acontece no seu dia a
dia. As pessoas que não vivenciam essa situação, apenas tem uma noção remota do
quanto o alcoolismo afeta a vida dos que o cercam, sem contar com a deles.
O amor da
família é peça fundamental para afastá-lo do álcool. Entretanto, se o
alcoólatra não querer se afastar, de nada adianta todo amor depositado nele.
O alcoolismo é
uma doença onde na maioria das vezes o paciente não quer ser tratado, levando a
família a adoecer juntamente com ele. Essa doença deixa marcas profundas no
corpo e principalmente na alma das pessoas que convivem com um alcoólatra. As
desconfianças, as brigas, as agressões físicas, psicológicas são lembranças que
o tempo ameniza, mas jamais apaga nos corações dos envolvidos.
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