Quando se trata de
“envelhecimento”, um assunto muito abordado é a questão da aposentadoria, pois
esta não garante uma boa qualidade de vida para os idosos, apesar de ser um direito
conquistado pelos trabalhadores.
Muitos são os
desafios da aposentadoria, principalmente num país que é repleto de
desigualdades sociais. Grande parte da adaptação à aposentadoria irá depender
do envolvimento de cada indivíduo com o trabalho, da sua história de vida e de
como ele deseja viver seus próximos anos, suas expectativas e suas limitações.
Aprendemos
desde cedo que “o trabalho dignifica o homem” e esse ditado popular parece tão
enraizado que acabamos por construir grande parte da nossa identidade em função
dele.
O afastamento
do trabalho provocado pela aposentadoria talvez seja a perda mais importante na
vida social das pessoas. Muitos gostam do que fazem, da empresa e/ou das
relações sociais do ambiente de trabalho e não desejam se aposentar. Outros
querem se aposentar, mas querem continuar a ter uma atividade profissional.
Para muitos, parar de trabalhar significa acelerar o processo de
empobrecimento, uma vez que, o valor de sua aposentadoria, na maioria das
vezes, é inferior aos seus ganhos durante o período produtivo. Outros tiveram
oportunidade de realizar algumas economias e, mesmo existindo certa euforia ao
dizer que irão realizar vários projetos, talvez não saibam detalhar seus
desejos na hora da aposentadoria. A verdade é que, mesmo para os que desejam se
aposentar e tenham planos para o futuro, é comum o surgimento de ansiedade ao
lidar com essa nova possibilidade, principalmente porque sabem que a
aposentadoria poderá provocar uma série de mudanças.
A adaptação à aposentadoria
difere no homem e na mulher. Geralmente, a mulher parece se dividir melhor
entre as várias funções na sociedade (como esposa, avó, mãe e filha) e a
ausência do trabalho poderá não ser tão significativa. O homem, por outro lado,
não tendo a supremacia do espaço doméstico socialmente criado para a mulher,
busca outros espaços em que possa vivenciar esse seu tempo liberado.
Entretanto, quando se refere a um trabalho que envolva realizações
intelectuais, a perda pode ser tão drástica para o homem quanto para a mulher.
Muitas
instituições realizam atividades ou Programa de Preparação para a Aposentadoria
(PPA), com antecedência de dois a cinco anos, através de encontros periódicos,
normalmente, mensais, onde abordam temas como educação, trabalho e
produtividade com o objetivo de prepara-los para o afastamento do trabalho
remunerado.
Os aposentados
que não se preparam, geralmente desenvolvem sintomas depressivos em função das
dificuldades que se encontram de refazer seus projetos de vida de uma maneira
produtiva e socialmente útil. Com a autoestima diminuída, desencadeia um
sentimento de fracasso pessoal e, portanto, não conseguem entender que esse é
um processo socialmente produzido.
Muitos fatores podem
dificultar uma aposentadoria ou uma velhice tranquila, dentre elas: a maneira
distorcida que a sociedade impõe aos aposentados e aos velhos de serem
improdutivos e inativos, gerando um sentimento de menos valia, ferindo sua
autoimagem e os colocando numa posição inferior aos outros cidadãos, ditos
produtivos e ativos; o rompimento abrupto das relações sociais com os colegas,
amigos e clientes do trabalho com os quais se conviveu durante décadas; a
redução salarial que quase sempre ocorre quando se aposentam, limitando ainda
mais a utilização criativa desse tempo útil, acentuando o sentimento de menos
valia; a falta de atividades alternativas desenvolvidas ao longo da vida fora
do âmbito do trabalho como lazer, frequência a clubes, trabalhos voluntários,
vinculação a projetos sociais, hábitos esportivos, viagens, atividades
religiosas, etc., e a falta de preparação familiar para receber em tempo
integral aquele ou aquela que muitas vezes esteve ausente grande parte do dia,
na busca da manutenção da família.
A proposta de
atuação da psicologia para a aposentadoria não visa apenas tratar dos
“sintomas” ou doenças que surgem de aposentados mal sucedidos. Objetiva,
primeiramente, atuar de forma preventiva, trabalhando os aspectos psicológicos
de evolução da carreira, percebendo cada sujeito como diferente, pois cada um
alcançará o momento da aposentadoria de forma desigual.
Portanto, as
estratégias de trabalho precisam ser pensadas criativamente no sentido de
discutir o problema e buscar alternativas para a melhoria do bem estar, o resgate
da dignidade e a ampliação da sua consciência como sujeito socialmente
produzido. O papel do Psicólogo /Gerontólogo é fundamental na preparação para a
aposentadoria ou à intervenção junto aos idosos aposentados que apresentam
sintomas depressivos. As intervenções partem de uma escuta atenta e reflexiva
sobre os aspectos positivos e negativos dessa nova etapa, para que haja um
enfrentamento mais consciente, tranquilo, e que também habilite as pessoas a
aumentar o controle sobre sua vida e sobre sua saúde tanto física quanto
mental.
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